História
"E quando a chuva cai...
acabou."
Sete amigos de infância, na casa dos vinte e poucos anos, honram a sua tradição de verão e passam uma semana numa vila à beira-mar. Pipa e Johnny, um casal tóxico, Anita, Salvador e Miguel, um triângulo amoroso, e Ema, uma solitária, chegam todos a casa de Lua, que os recebe de braços abertos, juntamente com seu novo namorado, Chico, que parece deixar todos incomodados. Várias tentativas são feitas para reacender os relacionamentos, mas o grupo depara-se com divergências dificilmente contornáveis.
Entre a casa, as praias, o lago, os bares e a discoteca, eles encontram-se rodeados por memórias de um passado complicado.
A única solução é enfrentar
a dor,
a tristeza
e a perda.
A ideia para este filme surgiu por volta de 2015, quando deixei Portugal pela primeira vez, para seguir os meus estudos em Paris. Com a distância, fui confrontado com as mudanças que se deram na minha vida relativas às minhas amizades. Nesta altura apercebi-me que os nossos grupos de amigos se tornam em parte na nossa família, com as mesmas nuances, positivas ou negativas, que uma família biológica possa ter.
Na génese do projeto, a ideia era explorar, de uma forma doce e otimista, a essência da amizade na juventude e o afastamento inevitável com a idade ou as várias circunstâncias que nos levam para novos caminhos. Amadurecendo com as minhas próprias ideias, fui desenvolvendo novas perspetivas sobre o que de facto é a amizade, e talvez, tendo perdido um pouco da minha inocência, fui desvendando os lados mais difíceis e nefastos das nossas relações. Ficou claro para mim que o filme seria um reflexo deste mesmo desfazer da ilusão, do que não é dito e do vínculo ao passado, do confortável e familiar.
As minhas férias de verão com amigos foram a grande inspiração, tanto para a narrativa, como para a proposta artística e visual. Questionei muito como, com o passar dos anos e com o nosso crescimento, as memórias de verões felizes e mágicos eram progressivamente maculadas por problemas ou discussões. Fiquei particularmente interessado no que constitui exatamente uma amizade, ao que ela se resume, e como certos eventos, especialmente os traumáticos, alteram a maneira como estamos presentes ou não, uns para os outros. Comecei a perguntar-me o que aconteceria se um dia eu não estivesse mais lá. Esse foi o ponto de partida para o desenvolvimento desta história. À Procura de Elly de Farhadi, um filme que descobri já na fase de conclusão do argumento, tornou-se numa referência incontornável por explorar este mesmo "abrir da caixa de Pandora” depois de um evento traumático. Vila Nova de Milfontes foi na verdade a grande inspiração para esta história, pela portugalidade deste verão e a beleza do Alentejo costeiro, mas também pela ligação emocional que tenho com este lugar onde cresci e vivenciei algumas das situações que me inspiraram.
Ter vários protagonistas é para mim essencial nesta narrativa. Sempre me impressionou como os meus amigos e eu tínhamos perspectivas muito diferentes sobre os mesmos eventos que vivenciámos juntos. Não havia forma das classificar ou hierarquizar, nem nunca poderia dizer que uma era mais verdadeira ou mais relevante que outra. Numa narrativa onde exploramos o que é ser amigo, só parece certo mostrar o que isso é através da visão de cada membro de um grupo. Neste âmbito, um dos desafios técnicos para criar a identidade visual do filme foi a fluidez da câmara e a passagem do ponto de vista de um personagem para o próximo. Como é que esta narrativa geral se pode desenrolar na passagem de uma situação interna de um personagem para outra, totalmente diferentes?
A incapacidade de estarmos lá realmente uns para os outros é o tema central do filme. Cada um dos personagens experiencia isso no seu próprio caminho e enredo, mas todos se sentem incompreendidos. Estão tão presos aos seus próprios problemas que não podem ser amigos de verdade. O que pretendemos observar é precisamente a sua desconexão progressiva. As amarras que uma vez os uniram são, no final, o que os separa. Observamo-los ao longo desta semana, apenas para descobrir que a história se repete. As dinâmicas de poder nas relações, o sentimento de culpa e o luto pelos nossos entes queridos e pelos elos que deixamos para trás, são todos temas universais, que estou certo serão apreciados pelo público. Este filme também nasce numa altura em que se nota uma popularidade crescente de filmes jovens, com propostas narrativas e estéticas novas e arrojadas. Acreditamos que este filme preencha essas expectativas e que daí advenha a sua relevância no zeitgeist atual.
O “Chuva de Verão” é um projeto criado com muita paixão e do qual nos orgulhamos imensamente. Esperemos que mostre o que conseguimos alcançar com o orçamento, tempo e recursos limitados de que dispusemos. Estamos extremamente entusiasmados por partilhar este filme, abrindo portas para discutir os muitos temas que esta história explora, desde a amizade e o amor, à perda e o luto.
- A.M.M.